banda larga demora a chegar a todo o país

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Aveiro
Net de alta velocidade avança lenta

 


Os novos enquadramentos regulamentares das telecomunicações criam «condições de exclusão graves», relativamente ao fornecimento de serviços, como a banda larga, que permitem o acesso à Internet, afectando as regiões periféricas e rurais.

A afirmação foi feita pelo investigador Manuel Oliveira Duarte, que coordena o Grupo de Sistemas de Banda Larga do Departamento de Electrónica e Telecomunicações da Universidade de Aveiro (UA) e é tão mais importante se tivermos em conta o objectivo do Governo de ter no próximo ano, pelo menos metade do País com acesso à Internet através de uma ligação de banda larga.

 

Em declarações a O Aveiro, Manuel Duarte lembrou que, no passado, «havia o conceito do serviço universal, em que os operadores de telecomunicações, apesar de funcionarem em regime de monopólio, tinham obrigação de fornecer o serviço telefónico em toda a parte do País ao mesmo preço». Esta situação alterou-se com o novo enquadramento regulamentar, que, segundo o mesmo responsável, permite que um operador se possa negar a fornecer o serviço em determinadas regiões, por considerar que não é economicamente viável.

 

Esta situação leva o investigador a concluir pela necessidade de «estudar esta problemática com cuidado e encontrar soluções que se ajustem mais à realidade destas regiões», considerando que a não existência de meios de acesso à Internet é «uma assimetria grave e uma limitação nos tempos que correm». O padre Júlio Grangeia, 44 anos, tornado conhecido pelos media por ter sido o primeiro padre português a criar uma página na Internet, foi uma das vítimas do atraso no fornecimento de acessos à Internet em banda larga, nas zonas periféricas e rurais. Segundo o pároco, o ADSL só chegou à sua residência, na paróquia de Travassô, em Águeda, há menos de seis meses. «Isto é como da água para o vinho», diz, quando compara o actual serviço com o anterior, quando usava um modem convencional ligado à linha telefónica. O padre Júlio Grangeia não esquece, apesar de tudo, a injustiça, pela qual diz ter passado, explicando que teve de esperar mais de um ano pela ligação à Internet de banda larga.

 

«Uma pessoa, só porque vive desgarrado, numa zona pouco rentável, acaba por ser penalizada», acrescenta. Antes da chegada do ADSL a Travassô, o padre Júlio Grangeia conta que chegava a pagar cerca de cem euros por mês pela ligação à Internet e o serviço tinha várias inconveniências, como a impossibilidade de estar sempre ligado à Net. «Era só à noite, porque nesse período era mais barato», explicou o padre, acrescentando que a ligação era, também, mais lenta. «Agora, pago cerca de 35 euros e posso estar ligado dia e noite, além de ser uma ligação em banda larga que tem outro tipo de potencialidades», concluiu o pároco.

 

Para o investigador Manuel Duarte, os serviços de telecomunicações são, neste momento, «uma parte estruturante da actividade económica e, portanto, uma região que não tenha um fácil acesso a esses serviços é uma região que está limitada e com menores capacidades de sucesso face a outras regiões». Manuel Duarte afirmou ainda que a Universidade de Aveiro, através do Grupo de Sistemas de Banda Larga do Departamento de Electrónica e Telecomunicações, está disponível para estudar a viabilidade técnico-económica de levar a banda larga a esta regiões.

 

Actualmente, a UA já se encontra a fazer um trabalho idêntico em parceria com os governos regionais das Astúrias, em Espanha, e do País do Lot, em França, no âmbito do projecto CYBERAL – Banda Larga para as Zonas Rurais, iniciado em Janeiro de 2002 e financiado pelo programa comunitário INTERREG III-B Sudoe. O projecto que deverá estar concluído em Dezembro deste ano, tem por objectivo estudar modelos organizacionais e soluções técnicas que possibilitem minorar as dificuldades com que certas regiões periféricas e rurais se confrontam relativamente ao acesso aos instrumentos da Sociedade da Informação, nomeadamente aos serviços de banda larga. A velocidade de ligação à Internet é o principal benefício garantido por uma ligação de banda larga, já que por norma pode ser cerca de seis vezes mais rápida do que as ligações analógicas. A esta vantagem soma-se também o facto de não ter de pagar os impulsos do telefone, como acontece nas ligações analógicas, podendo estar permanentemente ligado sem pagar mais e libertando o telefone para as comunicações de voz. A mensalidade das ligações de banda larga é normalmente fixa, o que permite um maior controle de custos. No entanto, alguns operadores introduziram modalidades que dependem do tempo de utilização. Por outro lado, as ligações de banda larga propiciam o acesso à utilização de aplicações que consomem muita largura de banda, como a videoconferência e soluções de elearning, por exemplo. Em Portugal as maiores ofertas, em termos de tecnologias de banda larga, concentram-se no ADSL, uma variante do DSL, e no Cabo, mas começam a surgir alternativas em Wi-Fi e Satélite, sendo também o Power Line uma tecnologia em estudo para utilização comercial.

 

No caso das zonas urbanas, o coordenador do Grupo de Sistemas de Banda Larga do Departamento de Electrónica e Telecomunicações da UA considera que o acesso à banda larga já existe numa percentagem apreciável do território. «Quer a Portugal Telecom, através das soluções por ADSL, quer a TV Cabo e a Cabovisão, através da televisão por cabo, disponibilizam já o acesso a estas tecnologias», justificou. Contudo, acrescenta o investigador, os preços são «muito caros», o que acaba por constituir um «desincentivo» a uma maior adesão. Além do preço, Manuel Duarte realça ainda a «barreira da sensibilização», adiantando que há «muitas pessoas, muitas empresas e decisores ao nível das autarquias que, infelizmente, não estão ainda devidamente alertados para o potencial que o uso destas tecnologias pode representar para as suas vidas, e para as actividades económicas».

 

 

 

Imprensa Regional – O Aveiro

 
 

16:33 
22 Março 2004